Eu acordei e corri. Precisava deixar registrado... Eu ME vi de novo! E dessa vez eu consigo lembrar. Apressei-me para não me escapar novamente.
Derrubaram os muros envoltos ao meu EU, não cri, DUVIDEI - Não! Não pode ser. Por quê?! - Pensei, inicialmente, em outrem. Meu Deus, e se algo acontecer a... Temi perder alguém. Os obstáculos foram transpostos e EU poderia ficar sozinha comigo, alguém que nem BEM conheço.
Senti medo. De repente fiquei exposta, vulnerável... Mas, sempre conseguimos maneiras de nos “fechar”, de nos proteger... Fechei as portas!!!! E me tranquei, novamente, em mim. Mas, dessa vez pude me enxergar e tentar me explicar a mim mesma.
Às vezes não gosto de mim, sabe?! Clarice Lispector fala que escrever é se conhecer, falar de si, se olhar, diz que até mesmo quando damos conselhos falamos de/para nós... Ela se enoja de ler a si mesma e eu me canso de mim. De tanto escrever, me olhar, aconselhar, falar comigo SUFOCO a mim mesma. Os outros parecem ser tão MAIS divertidos!!!!!
Difícil dizer quando tudo isso começou. Alguém me disse, e dessa vez não fui eu, que deveria desconfiar. Até, então, olhava e nada via. Mas... Aquela informação, aquelas palavras me fizeram olhar para o outro e, novamente, enxergar a mim mesma.
Sim. Aquele homem!!!! Eu o via como um “coitado”, alguém que, por ser vítima de uma má educação, se mantinha estático, sem expectativa de vida... Não estudava, não trabalhava, NADA fazia. Mas, essas certezas se foram como que levadas por um tsunami provocado pelo comentário alheio.
De repente, passei a enxergá-lo com o olhar do outro junto ao meu e isso fez uma diferença! Agora era estranho, me vigiava... Um barulhinho meu, um sinal e ele aparecia com aqueles olhos vermelhos indecifráveis. Sentia medo e não sabia. Olhava para o outro e não para mim.
Mas, naquela noite... Olhei e, de imediato, só consegui enxergá-lo. Sim! Mais estranho do que nunca. Isolado, com as mãos entre as pernas, me olhou. Senti arrepios que só se mostraram para mim horas depois... Quando me enxerguei.
Deitei-me e dormi. De repente, o muro foi abaixo! Meu Deus, o que ocorrerá com as pessoas a quem amo? E, eu!? O que ocorrerá comigo?
Foi quando veio o arrepio tardio.
Vejo-me! Sem muros fiquei vulnerável, exposta... Libertaram quem estava preso a mim e a quem eu julgava proteger. Espere! Tenho MEDO da liberdade dos outros ou da minha própria? E aquele homem estranho e, de uma hora para outra, assustador?
Encaro a realidade. Alguém derrubou os muros, mas eu mantenho as portas fechadas para a liberdade e, me fechando, na tentativa de me conhecer prendo o outro e a mim mesma a este desconhecido chamado EU.
Ao dormir me vi. Num sonho enxerguei o que escondia de mim... Se me conheço, se falo sobre mim... Posso conhecer o outro, entender o outro. Será?
Nada fica claro!
Assim são os meus sonhos. Assim sou EU para MIM: algo/alguém obscuro e incompreensível.
Mostro-me, me vejo através do outro e, para a minha surpresa, não sou EU.